A origem e o princípio
Tudo começa pelo começo, ou pelo menos assim deveria ser. Certa vez reunido com um grupo formado por diretores executivos e conselheiros numa determinada empresa fiz a seguinte pergunta:
“Quais são os valores desta organização?”
A resposta foi: silêncio.
As pessoas se entreolhavam e a cada segundo que passava aquele silêncio se tornava ainda mais barulhento. Um tentou arriscar iniciando com um “olha eu acho que….ética…dedicação…” errou.
Eram apenas valores que ele deveria ter ouvido em algum lugar e que achava importantes. Fiz um aprofundamento na pergunta: “quais são os valores que estão descritos pela empresa”? Silêncio novamente. Um tentou ir ali no celular buscar a informação e outro, o CEO, disse que haviam trabalhado durante 08 meses no assunto com uma consultoria estratégica e que alguém deveria lembrar. Alguém virou ninguém e logo sentimos que ali havia algo a ser feito por aquele grupo de pessoas.
O que ele silêncio nos revela? Muitas coisas. Mas uma delas é que…
há um profundo desconhecimento nas organizações sobre quais os valores ela está fundamentada, ou como foi inicialmente fundada e/ou o porquê dela existir até hoje.
Alguns dirão que será pela entrega daquele produto ou serviço a qual está dedicada. Mas existe, deve existir algo acima disto. Algo superior. Algo que liga com a função social da existência de uma “pessoa” jurídica.
Num dado momento, enquanto diretores e conselheiros discutiam sobre o tema, o representante da 2ª geração da família e membro do Conselho pediu a palavra. Ele era o mais antigo e tinha visto seu pai fundar a empresa. Se assustou com o fato das pessoas desconhecerem os valores que regiam aquela organização e se entristeceu ainda mais ao perceber que muito menos se sabia sobre qual era o propósito, a razão daquele negócio existir.
Neste momento uma história foi contada. A de como seu pai fundou a empresa para inicialmente encontrar com aquela que viria a ser a sua mãe. A avó de alguns dos que estavam ali. O avô organizava inicialmente um carro e depois outros carros para transportar pessoas para uma determinada cidade. Inicialmente era apenas ele que ia encontrar com sua namorada. Com o tempo outras pessoas até se tornarem uma referência em transportes na América Latina.
Mas qual a razão de termos ido buscar essa origem, esse “mito” fundador daquela organização?
Afinal, estávamos ali para realizar um trabalho de futuro. Construir um Mapa da Cultura de Inovação até 2030. E ai explicamos que para olhar pro futuro, as vezes precisamos saber do passado. Reconhecer de onde viemos para saber para onde vamos. Um exemplo claro de um bom “arroz com feijão” no universo da inovação.
E então eles chegaram a um novo propósito descrito ali com base em sua origem. Existimos para “conectar destinos”. E por quê fizemos isto percorrendo toda essa jornada, antes de falarmos de inovação?
Por uma questão de princípios…
Os princípios levam a processos que levam a práticas que moldam o que hoje chamamos de governança e tudo isto revela a real Cultura de uma organização.
Portanto, antes de qualquer coisa, antes de entrarmos na complexidade da solução de problemas, é importante começar pelo começo e se perguntar: quais princípios nos regem?